EM CAMPANHA

O período de eleições representa sempre uma oportunidade de emprego. Seja para o candidato em busca de um empregão da porra, seja para seus futuros auxiliares, aspones e penduricalhos. Mas também não podemos esquecer aquela galera que tá ali para de certa maneira tentar me convencer a votar na criatura. São aquelas que abordam o eleitorado nos semáforos, entregam adesivos ou simplesmente chacoalham as respectivas bandeiras a troco de um troco.

Na volta do colégio do moleque, hora do rush, a cada cruzamento observamos movimentos da espécie. Lucas matou a charada: esse pessoal tava desempregado, pai? A tentação era responder que não só estava como ainda está, já que a campanha acaba logo. Mas o papo fluiu sobre a provável situação sócio-econômica daquele povo, que se viu compelido a aceitar esse trabalho mesmo sem necessariamente acreditar em quem os contrata. Bastava ver que a imensa maioria demonstrava no semblante o mesmo entusiasmo dos funcionários da Havan, naquele episódio patriótico que rolou nas redes sociais.

Quando sou abordado, jamais adoto postura agressiva contra os cabos eleitorais, mesmo que estejam a serviço do coiso. Compreendo sua situação, não acho que por ter estudado menos ou se preparado menos essas pessoas mereçam ser tratadas de forma diferente ou indigna, pelo contrário. Minha matrícula no primeiro curso superior se deu aos 28 anos de idade, porque até então o trabalho (a necessidade de grana, melhor dizendo) falava mais alto. E só ocorreu porque naquele momento o meu trabalho me permitia o investimento. Quem garante que aquelas pessoas tiveram as mesmas chances que eu?

A semana estava sendo bem pesada para o moleque, com prova todo dia, período integral e quase sem tempo para a deliciosa arte de ficar à toa. Faz tempo já que não desce pra bater uma bola, a molecada às vezes o chama mas está sempre às voltas com preparação para prova, teste, simulado. “No fim de semana eu tiro o atraso”. OK.

Vez por outra dou uma passadinha em frente ao quarto dele e o vejo na bancada, rabiscando, estudando, de certa maneira envolto numa espécie de campanha particular. Não política, mas pessoal e profissional. Ele quer ser médico e sabe que para isso precisa de muitos ‘votos’, por isso dignifica o custo dos estudos que felizmente sua mãe e eu podemos bancar. 

Domingo tem piscina.

Esta entrada foi publicada em Acessibilidade e Cidadania. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *