NAS COSTAS DE QUEM, CARA PÁLIDA?

De vez em sempre eu me sento na cama com Lucas, meu filho, e juntos debulhamos seus livros e cadernos para estudar para a prova – dele – do dia seguinte. É legal porque, ao mesmo tempo em que avalio o que ele já sabe da matéria, aproveito para inserir exemplos práticos para ilustrar o assunto e fixar o aprendizado. Frequentemente acabo aprendendo junto.

Semana passada o assunto, em História, era a política do café com leite. Sempre rolou promiscuidade na política brasileira, na época a moda era o loteamento do Brasil para a curtição exclusiva de paulistas e mineiros. O combinado era assim: hoje eu sou o presidente, mando em tudo, amanhã é a sua vez.

Essa prática gerou e perpetua alguns aspectos da realidade nacional. Claro que, se a detenção do poder era direcionada, os benefícios também tinham endereço certo. Num dado momento parece que a mineirada bobeou e a paulistada usou de toda esperteza (neste contexto o substantivo não é um elogio) e acabou abocanhando a picanha e deixando o coxão duro para a galera do uai.

O resultado disso foi a concentração industrial na pauliceia, que foi construída também à custa do trabalho de forasteiros, principalmente nordestinos, que migraram para o sul maravilha para não morrer de fome.

Enquanto tudo isso acontecia, o Brasil inteiro permaneceu pagando impostos e pouco recebendo em troca, já que as políticas públicas também eram direcionadas. Não havia política industrial fora do eixo do poder, obras de interesse de comunidades inteiras eram condicionadas a sobras orçamentárias, políticas efetivas contra a seca no sertão nem pensar (até porque o êxodo forçado era uma boa fonte de mão-de-obra barata e subserviente).

Nos dias atuais, parece que persiste com força o esporte preferido da Av. Paulista, que é dizer que São Paulo carrega o Brasil nas costas. Eu nasci lá, sei bem como é isso. A gente cresce ouvindo esse discurso meia boca, somos a locomotiva do Brasil, aqui tem de tudo, os outros são atrasados. Aí vira e mexe surge uma onda separatista, ataques preconceituosos contra os imigrantes – nordestinos à frente – e as já tradicionais demonstrações de soberba, não sei bem se por ignorância histórica ou pura má vontade.

O fato é que durante a tal política do café com leite São Paulo se sentia bem confortável montado nas costas do Brasil, mas agora demonstra não estar muito à vontade com o bafo na nuca.

É a volta do cipó de aroeira, diria o Vandré.

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