UMA EXPERIÊNCIA COMPLETA

Lembrei-me de um tempo em que a empresa, ainda sem a primeira sílaba fruto de um casório de interesses, era comandada por um certo Rolim. Comandante Rolim.

O cara era fera, um fenômeno de visão empresarial. Inventou de colocar tapete vermelho no acesso à escada de embarque e desembarque das aeronaves, criou a sala vip com canapés ao som perfeito de uma banda de jazz e mpb em Congonhas e me mandava cartão de aniversário todo ano, assinado por ele. A então TAM tinha poucos anos de vida nos céus tupiniquins, mas ganhava mais e mais clientes da concorrência. Até que, num triste e trágico 08 de julho de 2001, li a notícia do falecimento de Rolim Adolfo Amaro, vítima de acidente de helicóptero.

A partir de então a TAM passou por processo de desalentadora metamorfose até virar algo igualzinho às demais empresas aéreas, e dizem que tal fenômeno se deve a uma certa modernidade. Foi quando a galera dos MBA da vida, aproveitando o vácuo deixado pelo comandante, chegou tomando conta e abusando dos jargões da moda, 5S, agregar valor, team building, networking, gap, benchmarking, resiliência, sinergia. O ápice do chique era se declarar workaholic.

A primeira providência foi diminuir o espaço entre as poltronas, e que se dane a galera acima de um metro e oitenta. Tentaram me convencer da adequação dessa medida afirmando que era uma tendência mundial. Não convenceram, mas não adiantava arriscar a Gol ou qualquer outra empresa, era tudo igual. Tipo posto de gasolina, onde até os preços são praticamente univitelíneos.

Parece que bateu alguma vergonha, daí não terem adotado a próxima medida moderna simultaneamente, mas as companhias aéreas resolveram num belo dia nos brindar com o fim do chamado serviço de bordo, que já não era uma brastemp. Quem quisesse algo além de água, teria de pagar. É no mínimo um grande desaforo pagar 15 paus por um sanduba meia boca, mas a empresa se defendia dizendo que havia a possibilidade de redução das tarifas. Ah, bom!

Deu certo, passou o tempo e a turma se acostumou a comprar o lanche ou se contentar com o saquinho de biscoito que trouxe de casa. A tarifa não diminuiu.

Como funcionou bem a traquinagem, o próximo passo foi cobrar um extra por poltronas pré-determinadas, não por acaso com mais distância em relação à da frente e bem parecidas com o que era antes. No melhor estilo ‘se colar, colou’, mas como de costume não reclamamos nem boicotamos e aí passou a compor os luxos oferecidos.

A mais nova investida é a cobrança pela bagagem despachada, iniciada – acho – em junho de 2017. Pensa numa medida que, de tão antipática, deveria levantar a questão nos escritórios da empresa: vale a pena?

Mais uma vez a desculpa de que é prática internacional e mais uma vez o melzinho na chupeta na forma de uma possibilidade de redução de tarifas. Que mais uma vez não se confirmou, bien sûr. E assim as coisas vêm fluindo (a alternativa às nacionais é uma tal Avianca, alguém se arrisca?), li ontem na Folha que uma moça ficou parecendo um astronauta de tanta roupa que vestiu uma por cima da outra, para se livrar de uma continha de quase 400 reais de taxa de bagagem.

Ao longo de 2018 as passagens aéreas foram reajustadas em 16,9%, mesmo com as empresas desobrigadas de servir um lanchinho com coca-cola, nos espremendo entre poltronas e cobrando pelo despacho das bagagens. Aí vem a Latam e me envia um e-mail me convidando para fazer da minha viagem uma experiência completa.

Não fora eu praticamente um Lord, tê-los-ia mandado à merda.

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2 respostas para UMA EXPERIÊNCIA COMPLETA

  1. Ana Carolina disse:
  2. fabiana disse:

    Saudades Negão !

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