GENTE

A partir daquele movimento coordenado a que chamo “Fora Dilma”, chamou-me a atenção o que me pareceu um comportamento ao mesmo tempo inédito e esperado das pessoas, em que a tônica era um discurso mezzo moralista mezzo sem sentido/sem provas. Houve até um mini Fora Dilma no meu prédio, quando os moradores insatisfeitos criaram um grupo de WhatsApp dedicado a descer o cacete na síndica. Claro que ela não foi convidada a participar do grupo, e por algum motivo não achei estranho. As mensagens do grupo se concentravam em ‘denúncias’, suposições e comentários maliciosos sobre as contas do condomínio, mas nunca havia uma providência efetiva, nunca houve quem tivesse a pachorra de mostrar a cara e afirmar peremptoriamente o que quer que fosse. Apresentar provas, então, nem pensar.

A tônica era um falar bobagem e o resto concordar, enriquecendo o assunto da hora com interjeições e crimes ortográficos. Não sei se por coincidência, os mais inflamados eram exatamente as ausências sentidas nas assembleias do condomínio. “Não tive tempo, estava em aula, meu filho estava com febre”.

A partir de então, meu macrocosmo tornou-se meu tirano de estimação. Ao observar a postura de meus vizinhos, sempre com algum tempero opressor e orgulhoso, achei por bem não rebater as bobagens que falavam, fazer cara de paisagem ante comentários constrangedores e observar que a grande maioria não era muito chegada a cumprimentar o porteiro.

Assim era e permanece. De minha parte continuo cultivando a rejeição ao ódio gratuito e visceral, ao funk, sertanojo e gospel. 

Não tenho certeza se é pena que sinto dessa gente diplomada e inculta, mas é algo parecido.

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