Parece que a galera da gravata fica mais gulosa quando em época de eleição. Paradoxalmente é também a época em que fica mais fácil abrir o cofre e cumprir pelo menos uma parte daquilo que foi prometido há três anos e meio. É bonito de se ver o carinho com que cuidam da nossa segurança, iluminando a rodovia no perímetro urbano. Tapar os buracos das ruas e querer mais policiamento já é pedir demais, mas é emocionante a expectativa de termos iluminação na BR qualquer dia desses.
A gente entende que fazer essas graças pra mundiça votante custa dinheiro, então eles precisam aumentar a arrecadação. Só que, não raro, exageram. Então, nós, os mortais, temos que redobrar a paciência porque não vai adiantar muito ter pressa para chegar em casa antes da blitz. Em outubro de 2008, por acaso ano eleitoral, Eliana foi contemplada com uma multa de trânsito. Segundo constava do documento da AGETOP, que vem a ser a Agência Goiana de Transportes e Obras, ela teria ultrapassado a velocidade máxima permitida para o local onde foi flagrada. O detalhe é que o carro dela na época era um Renault Clio, e o veículo fotografado e constante da multa era uma ambulância Peugeot.
Os homens lá são muito ciosos do seu trabalho, por isso não aceitam contato por telefone, internet nem sinal de fumaça. A madame teve que sair em horário de trabalho para se dirigir até aquele bairro conhecido como Cu do Judas, munida de sua documentação e dar entrada na contestação do auto de infração. Mais ou menos uns 45 dias depois recebeu a resposta, em que eles, de forma magnânima, acharam por bem dar provimento às suas alegações e arquivar o processo.
Eis que, há um mês (só pra lembrar, estamos em ano eleitoral), a madame é novamente contemplada com um auto de infração:
Desta feita seu pecadilho foi transitar pela faixa exclusiva para ônibus. Ela levava o Lucas para o confessionário da Catedral Metropolitana de Goiânia, uma das últimas etapas do processo de primeira eucaristia do moleque. Ocorre que, conforme é possível perceber pelo mapa abaixo, não há como entrar no espaço dedicado ao estacionamento da Catedral sem ‘invadir’ a primeira faixa da direita, o que me leva a imaginar o que as cabeças pensantes da SMT-Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade esperam de alguém que precisa estacionar na Catedral.
Pra ficar mais didático: Eliana se locomovia de leste para oeste pela Rua 10. A Catedral Metropolitana de Goiânia é a
edificação que ocupa todo o quarteirão após a confluência com a Rua 20, e a entrada do estacionamento fica logo após o cruzamento. Eliana disse que tentou parar o carro na faixa central e carrega-lo nas costas até o estacionamento, mas o tanque estava cheio e ela não aguentou o peso.
Estive no local anteontem e fiz algumas fotos:
Ponto de entrada do estacionamento da Catedral
Cruzamento entre as ruas 10 e 20, com destaque para o canhão fotográfico
Mesmo demonstrando que não havia nenhuma proibição de entrada no estacionamento da Catedral, e que não havia outro meio para tanto senão o de invadir por alguns metros a tal faixa exclusiva para ônibus, a defesa de Eliana não teve provimento e ela terá que ajudar na campanha pagar a multa estipulada pelo poder público. O mais pitoresco nisso tudo, tirando o fato de que foi a própria SMT quem me disse, há uns dois anos por email, que nada pode fazer quando um fdp qualquer utiliza indevidamente uma vaga exclusiva para pessoa com deficiência ou idoso no supermercado ou shopping, foi o fato de que, ao dedicar 15 minutos de meu precioso tempo de aposentado para contar veículos, descobri que, para cada 358 carros, motos e caminhonetes que transitaram no local fatídico, passou em média UM ônibus, todo garboso e lotado, na sua faixa exclusiva. Pode até parecer implicância minha, mas há um certo cheirinho de estagiário fazendo trabalho de engenheiro no trânsito de Goiânia.