Nos meus idos e não tão saudosos tempos de auditor, minha Regional dispunha de um profissional que atuava na supervisão e produção da área de TI, que vem a ser, em bom português, Tecnologia da Informação. Um neologismo legalzinho para o Windows e alguns bacalhaus que usávamos no dia-a-dia. Pau pra toda obra, Mauro era quem eventualmente criava pequenos programas e macros sobre dados que fornecíamos e que serviam de base para a realização do nosso trabalho.
Como todo bom ‘micreiro’ (quer arrumar encrenca com um profissional de TI? Chame-o assim), o cara é bonachão, praticante do deboismo, fã de matemática e tarado por novidades eletrônicas. Enquanto em nossas estações de trabalho tínhamos um notebook, um copo com água e uma porrada de processos, sua estação parecia um carro alegórico, com hd externo, sistema de som 7.1, webcam em formato de dinossauro e sempre a última palavra em programas de edição de vídeo. Também manda bem no powerpoint, o que pode lhe garantir certa moral com o MP.
Um dia ele chegou com uma novidade a que chamou mega-blaster, mas não contou o que era. Só me falou: “negão, pega o celular e liga aqui no meu ramal”. No que tentei entrar no clima da brincadeira, observei que meu celular estava sem sinal. Então ele abriu o jogo e mostrou seu bloqueador de sinais, que funcionava num raio de sei lá quantos metros, o suficiente para que seus alunos (ele é professor de matemática à noite numa faculdade) deixassem de lado suas maquininhas do capeta e prestassem atenção à aula. O detalhe é que a engenhoca foi comprada por R$ 80 no camelódromo.
Uma perguntinha não quis calar: se com um ‘made in China’ o cara consegue bloquear o celular de seus alunos, qual a dificuldade de fazer o mesmo nos presídios?
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O irmão de uma conhecida minha não é propriamente um candidato a santo. Vira e mexe é encanado por pequenos delitos e numa situação dessas se deu um fato que chegou ao meu conhecimento: sua esposa atendeu ao telefone e era ele, do presídio conhecido como Casa de Prisão Provisória, para avisar que tinha sido pego mais uma vez. Passou o número do telefone e pediu para colocarem crédito.
Na verdade o aparelho pertenceria a um PM que servia no local e defendia algum com locações da espécie. Teria sido o mesmo que cobrou pelo colchão que não havia – e deveria haver – na cela, então na primeira visita sua esposa teve que levar uma graninha para o ilustre servidor público. No caso dele o aparelho objeto desse contrato informal de leasing serviu somente para comunicação com a família, mas disse que viu ‘coisa feia’ acontecendo com seu uso. Preferi não perguntar o que seria essa tal coisa feia.
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Minha burrice crônica não me permite afirmar nada, mas às vezes parece que as duas situações aparentemente distintas que relatei podem ter alguma relação.
Mas deve ser paranoia.