Ah, nem!

Desde a primeira vez que ouvi – e ouvi várias vezes – que o tema da redação do ENEM era feminista, a tendência para rejeitar o rótulo foi muito grande. Quando os ‘ismos’ são aplicados, me parece que os assuntos ficam adstritos a um grupo ou movimento, e a questão do respeito à mulher é absolutamente abrangente na vida em sociedade, seja quando o assunto é violência física, violência moral (inclua-se nesses dois tipos a ocorrência do estupro e crimes assemelhados), desigualdade no trabalho, exploração doméstica, preconceito sexista. Então, não vejo feminismo, mas interesse social. 
 
Fui criado num meio muito propício à deformação de caráter, meus amigos de infância em maioria demonstravam terríveis tendências à violência, ao desrespeito e ao ‘elogio da superioridade masculina’, base para o quadro animalesco atual, e consegui crescer livre desse ranço.
 
Sou grato por isso, a ponto de sentir pena de pessoas com maior ou menor poder de influência que não perdem uma oportunidade de destilar pobreza espiritual travestida de opinião abalizada.
 
Mas a origem da reação negativa ao tema da redação não me parece ter muito de machismo ou preconceito. O que de fato aparenta é a dificuldade decorrente – e recorrente – da ausência do saudável hábito da leitura, que seria a alavanca a conferir aos candidatos alguma habilitação para tecer comentários ou emitir opinião acerca de um assunto que exige muito mais do que oferecem suas cabezitas, boa parte forjadas em League of Legends ou no Whatsapp. Como esperar que essa horda de analfabetos funcionais discorra sobre temas com algum grau de complexidade?
 
O resultado final é o mimimi da maioria e a comemoração das exceções. Normal. 
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