Na minha distante infância eu era fã de luta livre, que os caras da TV achavam mais chique chamar de telecatch. Não estava sozinho: toda minha família e a vizinhança e o país curtiam aquele faz-de-conta bobinho que recentemente me surpreendeu ao se mostrar ainda vivo para o público norte-americano. Ainda bem que Mr. Abravanel persiste sem inventar de trazer pra cá porque… cá pra nós… né?
Mas havia ali um ingrediente que indiretamente fez minha cabeça e a de muitos: a decência, que alguns chamam de ética. Meus ídolos da época eram o Ted Boy Marino, Tigre Paraguaio, Fantomas, não deve ser por acaso que eu não me lembre dos ‘vilões’. O maniqueísmo era evidente e proposital, havia algo de educativo naquela palhaçada dramaticamente mal ensaiada e perfeita no quesito atlético. O bem vencia o mal, sempre, essa era a moral da história ao final de cada luta, entendendo-se por agentes do bem aqueles lutadores que nunca-jamais-em-tempo-algum lançavam mão de meios desonestos para tentar vencer, isso era tarefa dos vilões, que sempre se ferravam.
Então eu cresci, envelheci, e nunca mais curti o bom e velho telecatch. Mas me lembrei dele há alguns dias: ao ver numa postagem em rede social de um amigo tudo aquilo a que chamam fake news, busquei um canto reservado e alertei-o em off. A resposta dele me surpreendeu, porque ao invés de aceitar e se corrigir ou, no que imaginei a pior das hipóteses, discordar e argumentar, ele simplesmente me indicou um link que levava a uma publicação criminosamente mentirosa do lado de lá, como que justificando seus atos porque os outros também agem assim.
Foi quando as lições da trupe de Ted Boy Marino me voltaram à mente e se impuseram para me mostrar que não, a rachadinha de lá não justifica uma nota fria aqui. E ponto.