LA CARTA MALEDETTA

 

“Bem-vindo à administradora do seu cartão. Se você deseja isso, digite 1, caso queira aquilo, digite 2” 

“Digite o número do seu cartão com 16 dígitos”

“Digite o ano do seu nascimento com quatro dígitos”

Digite o dia do seu nascimento com dois dígitos”

Digite os quatro últimos números do seu CPF”

Tum… tum… tum”

                           (…)

“Bem-vindo à administradora do seu cartão. Se você deseja …”

“Observamos que o cartão digitado é novo e se encontra bloqueado; caso queira solicitar o desbloqueio, digite 5; caso tenha recebido o cartão sem tê-lo solicitado, digite 6 para falar com um de nossos atendentes”

“Seis. Infelizmente não conseguimos validar seus dados, observe os números digitados e tente novamente tum… tum… tum”

                            (…)

Não digo qual é o banco, porque tenho muito carinho por ele. Mas essa história já tem cerca de seis meses, e começou com um alerta que recebi via sms num sábado à noite, que dizia algo assim: “Compra não autorizada, entre em contato com a Central de Cartões”. Agradeci aos deuses do Olimpo por não ter sido autorizada a transação, porque vi que era uma tentativa fraudulenta decorrente de um provável crackeamento do meu cartão. A Central de Cartões providenciou o bloqueio do meu cartão, a reemissão e envio de um novo. Beleza.

Ocorre que eu moro numa cidade chamada Goiânia que, penso eu, não é muito amada por carteiros e demais profissionais que precisam de endereços oficiais para realizar seu trabalho. A questão é que o cadastro da prefeitura estabelece um padrão de endereço com rua, quadra e lote, já na conta de energia esse mesmo ponto específico do planeta vem com rua e número. Isso sem falar das variações sobre o mesmo tema, em que o que era rua vira avenida e não raro o cadastro da prefeitura indica Rua Pelé e os demais citam um certo Edson.

Deve ser motivo de orgulho para a Câmara de Vereadores pelo menos, porque ninguém por aquelas bandas nem no Paço Municipal parece se incomodar com o fato de o mesmo logradouro atender pelas alcunhas de Rua 83, Avenida 83 e Rua Henrique Silva. Sim, Setor Sul de Goiânia, vejam aí no Google Maps. 

Pois bem: para finalizar meu atendimento a Central de Cartões do tal banco me pediu para informar verbalmente (“para sua segurança esta ligação está sendo gravada”) meu endereço completo. No que informei rua e número, a mocinha me disse que os dados não conferiam com seus registros. Então eu perguntei se o padrão dela inclui rua, quadra e lote e ela me respondeu que, por segurança, não poderia me dar aquela dica. Lembrei a ela que antes de travarmos aquele animado colóquio eu tinha passado por agradáveis dezenas de minutos atendendo às determinações de um robô, tendo digitado meus dados para identificação no sistema, donde não se justificava travar o atendimento ‘por questões de segurança’.

Não teve jeito: para solução do impasse eu precisaria ir até uma agência munido de meus documentos e um comprovante de endereço para realizar minha atualização cadastral. Ponderei que já há alguns anos o guarda não me deixa passar pela porta giratória, porque alguém da gerência disse a ele que tudo pode ser resolvido pelas maquininhas estacionadas na sala de autoatendimento e ele, como bravo soldado que é, barra a mundiça petulante que acha que pode chegar e ir entrando. Ela, então, me deu a opção de enviar meu comprovante de residência via internet. Assim o fiz, tendo recebido do site do banco a informação de que em até 72 horas a alteração seria processada. Ô, Gloria!

Passadas as tais 72 horas, entro no site e verifico que não havia mais a informação de processamento pendente. Então, serelepe, telefono para a Central de Cartões para solicitar que meu novo cartão de crédito fosse, finalmente, desbloqueado. As decepções que meu exacerbado otimismo às vezes tem que enfrentar ainda vão me mandar para o IML, fato é que a mocinha (depois das gravações, claro) me disse que meu endereço estava desatualizado e, por isso, não poderia comandar o envio do cartão. Informei que tinha feito a atualização e fiquei sabendo que deveria tê-lo feito via App, não no site. Sim, porque em que pese o banco e a administradora do cartão terem o mesmíssimo nome e adotarem a mesmíssima logomarca, são na verdade empresas distintas cujos sistemas não se falam. Achei normal.

Uma vez vencidos esses pequenos embaraços burocráticos, aguardei a chegada do novo instrumento de consumismo. Chegou, bonitão, pretão, cheio de marra com aquele aspecto de requinte que eu fiquei me perguntando se de fato merecia. Liguei para a Central de Cartões para solicitar o desbloqueio.

“Bem-vindo à administradora do seu cartão. Se você deseja…”

“Informamos que o cartão digitado foi cancelado. Digite 9 para falar com um de nossos atendentes”

A esta altura minha paciência começava a dar sinais de cansaço. O rapaz que me atendeu disse que o sistema informava que foram realizadas três tentativas de entrega do cartão no meu endereço, mas que por falta de alguém no local para recebê-lo ele foi devolvido à origem e cancelado.

Dois detalhes conflitam com a versão oficial do sistema: a) moro num condomínio com portaria 24 horas. Por essa portaria eu recebo com regularidade correspondências diversas, contas de energia elétrica e gás, sandubas do iFood, propagandas da legítima brazilian wax, folhetos com ofertas de supermercados, mas o banco alega não conseguir me entregar um mísero cartão de crédito; b) apesar de o banco ter tentado me entregar em três oportunidades sem sucesso, o cartão está aqui comigo, recebido na primeira tentativa.

Dããã!

A encrenca chegou a tal ponto que bateu um misto de cansaço e preguiça,  fazendo com que a opção ‘deixa pra lá’ passasse a comandar as ações. Então, já tem tipo seis meses que só utilizo o cartão de crédito de outra instituição. O interessante é que minha fatura, que invariavelmente me cobrava mensalmente alguns milhares de reais, passou a vir zerada e ninguém do tal banco entrou em contato comigo para saber o motivo.

Vai ver ainda não notaram.

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