VADE RETRO, RELIGIO!

Já na adolescência tive meus primeiros contatos com a imposição de certo sentimento de culpa, por não gostar de hóstia nem de dizer amém. Sempre achei chato e pouco inteligente passar pano para aquelas historinhas mal contadas naquele livrinho mal escrito por homens que estavam longe de serem santos. Reconheço que me faltava boa vontade – ou sobrava preguiça – para tentar pelo menos me integrar à turba, porque o tal senta-levanta-agacha-ajoelha das missas era para mim um martírio tragicômico.

Percebi que minha rebeldia não era acompanhada por valentia, pois raramente opinava ou permitia que transparecesse essa minha maneira herética de ser. Segurava o questionamento quando alguém vinha com ‘graças a Deus a mulher se curou do câncer’, porque não pegava bem perguntar por que Deus não evitou o câncer na mulher. Deus já tava ali mesmo – né não? -, o que custava dar um up na mulher e ganhar uns likes da galera?

Percebo hoje que não me mostrava por simples instinto de sobrevivência social, porque os não alinhados como eu eram vítimas de conceitos e preconceitos. Eu levava a vida de boa, trabalhava, estudava, saía com os amigos – tinha amigos! -, namorava, tocava violão, curtia meus discos e livros, mas não gostava de religião, o que, por si só, fazia de mim uma pessoa má. Considerando que estávamos em plena ditadura e eu de quebra não simpatizava nem um pouco com o Ustra, minhas convicções político-religiosas faziam de mim uma espécie de protótipo de pária. Mas tinha orgulho disso.

O tempo passa, o tempo voa, e segui entrando em igreja só para acompanhar o casamento de alguém ou – mais recentemente – tocar em eventos. Não mudei de opinião, em que pese ter tido algumas experiências que me aproximaram de doutrinas interessantes, porque mais próximas da realidade. Passei a ler sobre o espiritismo, por influência do meu então sogro, que era do tipo que matava a cobra e mostrava a cobra morta, ao pregar o bem, a caridade e a solidariedade e praticar isso tudo em seu dia-a-dia. Toda semana promovia a sopa dos pobres, vivia mendigando às empresas de sua cidade donativos para os lascados da região, visitava enfermos, dava passes. Aí, de repente, chegou o Alzheimer e suas consequências o obrigaram ao isolamento. A partir de então teve somente a família por companhia até morrer, porque seus outrora companheiros de centro espírita simplesmente o abandonaram. A religião é feita por pessoas, e essas pessoas macularam seriamente minha ainda tênue admiração pelo espiritismo. Foi aí que Denizard e Chico Xavier foram enviados pra vala comum do descrédito.

As incoerências e contradições se multiplicam nas religiões. De repente aparece aquilo que ficou conhecido como neopentecostalismo, com seus pastores, bispos, apóstolos e assemelhados emergidos dos subterrâneos, vendendo caneta ungida para os crédulos, fazendo fortuna à custa de um povo miserável que jamais leu um livro na vida, ao mesmo tempo em que a galera do Vaticano acoberta os crimes sexuais de seus celibatários assexuados de hábito e crucifixo. Fora do cristianismo tem aquela turma que joga bomba, mete bala e sonha com dezenas de virgens num paraíso idealizado. Dizem que essas barbaridades e promessas estão no livrinho deles, mas eu duvido que não tenha um cretino fazendo as vezes de padre ou pastor para dar a interpretação do texto conforme a necessidade de momento.

Minha ojeriza ganha corpo num momento péssimo, em que uma garota de 10 anos aparece grávida em decorrência de estupros provavelmente frequentes, sofridos desde quatro anos atrás, praticados por um tio cujo nome não é divulgado nem seu rosto conhecido. Em casos da espécie nosso ordenamento jurídico permite a realização de aborto que, de fato, foi realizado, mas paradoxalmente a fúria dos ignóbeis e hipócritas de plantão recai sobre a vítima, tachando-a de assassina y otras cosítas más. Todos com a bíblia nos respectivos sovacos, não reconhecem na criança a condição de vítima de um monstro. Talvez por serem, igualmente, monstros.

Não odeio essa gente, desprezo me parece a palavra mais adequada. Não são de fato totalmente inúteis, apesar de merecidamente desprezíveis, porque ao menos servem de maus exemplos ou, no mínimo, me mostram que estou no bom caminho pelo simples fato de ser o oposto deles.

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5 respostas para VADE RETRO, RELIGIO!

  1. Olá meu irmão ! Será que posso te chamar assim ? Creio que foi Deus que me fez chegar até essa página…rsrs
    Gostei muito da sua forma de escrever…de hoje em diante irei te seguir;não como sigo a Jesus,mas com certeza me acercarei de tudo e guardarei o que é bom em seu trabalho…brincadeiras à parte achei seu trabalho muito bom.

  2. Olá meu irmão ! Será que posso te chamar assim ? Creio que foi Deus que me fez chegar a essa página…rsrs
    Gostei muito da sua forma de escrever…de hoje em diante te seguirei;não como sigo a Jesus,mas com certeza me acercarei de tudo e guardarei o que é bom em seu trabalho…brincadeiras à parte gostei do que vi nesse blog.

  3. Polyana de Oliveira Mascarenhas disse:

    Que bom ler sobre meu Vô Zé Dias! Ele realmente foi um grande homem!
    Me identifico muito com tudo o que escreveu, tio! Cresci acompanhando o vovô, seguindo os ensinamentos dele sobre o espiritismo, mas sinto que após o falecimento dele, não faz mais sentido ir ao centro, seguir uma RELIGIÃO pra me sentir parte de Deus. Já fui e sou julgada por não ser uma escrava de igreja/centro/templo ou qualquer outro ambiente que segue uma doutrina redigida pelo homem, justificando várias atrocidades em nome de Jesus. Não aceito uma religião que se aproveita da fé dos outros pra enriquecer, pra destruir vidas (em nome de Jesus), que cria fanáticos cegos e surdos para a realidade/humanidade! E mesmo não seguindo um líder religioso ou um livro, que como você disse, “bíblia nos respectivos sovacos” (pq é só lá nos sovacos mesmo que fica o real significado de “amar ao próximo como a ti mesmo” que o livro tanto fala), tenho certeza de quem eu sou, das coisas boas que eu faço, da fé que eu tenho em Deus e nas energias que cercam o universo.
    Enfim.. a minha religião é o amor!
    Um beijo pra você, Eliana e Lucas! Muitas saudades de todos! ❤️

  4. Rogério Veloso disse:

    Seja muito bem-vindo, Luis. Neste cafofo prevalece o respeito à diversidade, inclusive de opiniões, sempre com o respeito pessoal em evidência. De vez em quando rola um texto mais ou menos. Grande abraço!

  5. Rogério Veloso disse:

    Pois é, Poly, esse desvio de conduta ou caráter sempre me manteve meio longe de templos e assemelhados, e demorei para notar que a culpa não era minha. Seu avô foi um cara inspirador, estudioso e íntegro,
    mas raríssimo mesmo em seu meio. Beijão.

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