JUÍZES

Entre 2008 e 2011 eu me submeti a um tratamento pesado contra o até então bem escondido vírus da hepatite C. O uso de antivirais poderosos como interferon e ribavirina implicou um monte de efeitos colaterais como anemia, momentos de intensa fadiga, imunodepressão, emagrecimento importante e uma dor no conjunto cabeça-tronco-e-membros que não cessava.

Resisti e continuei trabalhando, até que minha gerente determinou que eu tirasse licença médica, porque minha teimosia não estava ajudando nem a mim nem à empresa. Acabei cedendo à determinação, e o que imaginei que seriam 25 dias de licença acabou se transformando numa ausência superior a um ano. Nesse meio tempo continuei levando minha vida, convivendo com minha família, lendo, escrevendo e tocando meus instrumentos.

Em determinada ocasião fui convidado a tocar violino numa solenidade da empresa, me parece que alusiva ao dia das mães. Topei, só não sabia que isso iria gerar tanta conversinha paralela por parte dos justiceiros de plantão, que tinham decretado que quem sai de licença médica precisa necessariamente permanecer 24 horas na cama, de preferência em coma e respirando por aparelhos.

Após esse episódio aprendi que empatia é uma coisa rara feito filho de quenga chamado júnior e, em especial, que analisar as situações de forma precipitada e superficial pode gerar algum dano até a quem não precisa de inimigos.

Este gancho é para comentar um vídeo que assisti numa rede social, que denuncia uma suposta funcionária da prefeitura de São Bernardo do Campo, que teria passado cerca de um mês no Egito durante período de licença médica. As inferências instantaneamente viram verdades absolutas, a ‘reportagem’ fala que a viagem foi bancada por dinheiro público, que ela estava recebendo sem trabalhar, etc, etc. Um mais iluminado que os outros a chamou de ‘biscate’ na área de comentários.

Não tenho certeza se o vídeo foi de fato produzido pela Rádio Bandeirantes de São Paulo, ou se foi uma forma de dar ares de seriedade à ‘reportagem’. O fato é que se trata de uma ‘peça jornalística’ sem data, que expõe a mulher ao citar seu nome completo, duvida publicamente de sua honestidade e, ainda, reproduz o que seria uma tentativa de entrevista por telefone.

Consultei os ácaros aqui de casa e observei que até eles sabem que salário recebido por servidor público não é dinheiro público; já foi, porém ao ser depositado na conta do servidor deixou de sê-lo porque passou a ser bem privado. Eles também sabem que só recebe proventos decorrentes de licença médica quem contribui para o órgão previdenciário, ou seja, é um direito que assiste ao segurado.

Mas o que vale é a versão, o fato a gente vê depois. O importante é que o vídeo já ultrapassou a barreira das 100.000 visualizações. 

Claro que é sempre possível que pessoas cometam irregularidades, fraudes e outros crimes contra a administração pública, mas não é isso que entendo estar em jogo.  Nem toda licença médica impede as pessoas de viajar, seja para o Egito ou para a baixada fluminense, então até prova em contrário ela não cometeu crime algum. Consequentemente, não cabe a jornalistas ou a quem quer que seja se dirigir ou referir a ela de forma desrespeitosa ou acusatória. Se sabem de algo concreto, e detêm as provas, que façam a denúncia junto às autoridades, não aos juízes do Facebook.

Juizes do facebook

Por enquanto, se alguém cometeu algum crime foi quem a chamou de biscate.

É sintomático o destaque que o vídeo dá ao fato de ela ter sido candidata pelo PT, deixando transparecer o real objetivo da ‘reportagem’. Ontem a turma da situação publicou um post ‘denunciando’ a jornalista Danuza Leão de preconceito contra os pobres, o que automaticamente faz dela uma coxinha. Anteontem o outro lado publicou matéria requentada falando sobre o suposto apoio do Planalto à indicação do tal Gim Argello para assumir cargo no TCU, coisa de petralha. Eu resolvi já há algum tempo que não iria mais me aborrecer com essa briguinha idiota entre o bem e o mal, até porque esse maniqueísmo cretino só destrói. Mas no caso desse vídeo resolvi me manifestar, porque de certa forma o silêncio pode retroalimentar a crueldade.

Se o tal vídeo foi de fato produzido por jornalistas, agradeço aos céus por eles não terem se decidido pela medicina.

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EMPOBRECIMENTO ILÍCITO

Ainda me resistem na memória as doces lembranças dos oito anos seguidos em que meu contracheque sofreu de imutabilidade crônica, nos idos daquela versão de tripanossoma cruzi de beição, também denominada governo FHC.

Eu vivia com medo da síndrome de Estocolmo, parecia que a qualquer momento poderia passar a achar normal ou até mesmo gostar de ser esfolado vivo, porque tinha a consciência de que integrava a turma conhecida como a parte mais fraca da corda. Era batata: se a inflação aumentava, e ela sempre aumentava, congelem-se os salários; se o superávit primário não era alcançado, congelem-se os salários; se o beição engravidar uma repórter da Globo, pau nos salários. Nunca me perguntaram o que eu achava daquilo, talvez porque fossem pessoas finas e diferenciadas que não gostavam de palavrão, mas eu dizia assim mesmo. Ou nos artigos que escrevia, ou na digitação da urna. A vingança era meu rivotril.

De repente, não mais que de repente, eis que me livro do encosto da Sorbonne e sou contemplado com sucessivos reajustes acima da inflação concedidos por Luiz Inácio, a quem hoje carinhosamente chamam de ‘nove dedos’, numa demonstração de apreço, educação e respeito às pessoas com deficiência. A economia ia bem.

Mas o sinal amarelo acendeu semana passada, quando o ministro – aquele do Bradesco, me explica essa, Dilma! – começou a falar em aumentar a arrecadação. Meu brioco, já sensível e escolado por seus profundos conhecimentos de história recente, logo matou a charada: não vão aumentar a arrecadação, só diminuir custos. Ora, o ministro trabalhou um tempão no FMI e também ocupou altos cargos no governo FHC, deveria eu esperar uma mentalidade heterodoxa?

Não deu outra: já anunciaram a proposta de adiar, de janeiro para agosto ou outubro de 2016, o reajuste dos funcionários públicos, provavelmente vão botar ABS no salário mínimo e as aposentadorias só vão subir se for no telhado.

Eu até poderia sugerir, para aumentar a arrecadação, que algum iluminado do Planalto estudasse formas de dar um fim na isenção fiscal das igrejas e do pagamento de dividendos de empresários, além de passar a taxar as chamadas grandes fortunas. Poderia, não fosse a consciência de que o Congresso Nacional foi tomado de assalto pelas bancadas conhecidas como BBB: da bíblia, do boi e da bala, que estão longe de atitudes patrióticas, existem para defender seus próprios interesses. Tem também uma filial da FIESP dando ordens por lá.

Essa grita contra a ressurreição da CPMF tem razão de ser: a arrecadação do chamado imposto do cheque será suficiente para evitar o aumento das alíquotas de imposto de renda pessoa física. Mas para quem está mal intencionado a CPMF é de todo danosa, porque não há como sonegar. Então, para a alíquota entre 0,2% proposta pelo governo e a de 0,38 pedida por governadores, quem recebe R$ 10.000,00 de salários por exemplo pagará por mês R$ 20 e R$ 38, respectivamente. Agora, quem leva R$ 500 mil e sonega tudo (porque sonega mesmo) a CPMF é considerado um atestado de incompetência.

Meu consolo é que, se Dilma cair, quem assume é o Temer ou, quem sabe, o Cunha.

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CASA NOVA

Depois de passar um bom tempo me sentindo um imigrante na fronteira da Hungria, resolvi chutar o balde e mudei de hospedagem. Não dava mais para tolerar travamentos crônicos que me impediam de postar por um monte de dias, sem receber do UOLHost as respostas e providências de que me achava merecedor. Até porque a hospedagem nunca foi gratuita.

Assim, após pesquisas com amigos que conhecem do riscado optei pela Locaweb, para onde migrei minhas doideiras, templates, widgets, plugins e comentários. 

O começo está bastante animador, eu me sinto respeitado e a estrutura do atendimento oferecido pela empresa me dá a tranquilidade que não tinha na hospedagem anterior. Como foi possível fazer a migração com pouca perda, para a galera que aprecia meus delírios não haverá mudança alguma para acessar o blog.

Minha porção majoritária e essencialmente otimista me convenceu de que esta mudança não será como as que já fiz de operadora de telefonia celular, quando saí da merda para cair no cocô. Oremos.

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EU, ADÚLTERO

Talvez pelo fato de minha mãe nunca ter feito o estilo carolão e meu pai gostar mesmo é de uma gelada, eu não sou nada afeito aos bolodórios de padres, pastores e afins. Claro, fui batizado, fiz a primeira comunhão e tudo aquilo que o senso comum da ‘maior nação católica do mundo’ exigia, mas desde o início achava bobo aquele senta-levanta-ajoelha, mentia mais que político nos confessionários e demorei para perceber que aquilo que o padre botava na boca dos outros não era sonrisal.

Y así la nave se fué: cresci largadão no quesito religião e nem de longe considero que tomei algum prejuízo. Pelo contrário, na minha humilde opinião religião faz mal pra cacete. Umas mais, outras menos.

O irônico é que no primeiro casamento vivi cercado de espíritas e agora, há 17 anos sob nova direção, adotei uma família católica praticante. Vez por outra deixo escapar uma opinião meio off-topic, mas no geral consigo respeitar a crença da galera, até porque gosto muito de todos e jamais cometeria uma agressão de forma consciente.

O assunto religião me persegue: recentemente o papa Francisco (sou fã do carinha) abordou uma questão que minha ignorância eclesiástica não me permitiu sequer desconfiar, que é a posição da Igreja acerca dos divorciados. Eu sou um deles.

Segundo o evangelho de Mateus, o casamento é como diamante ou mercúrio em corpo de garimpeiro: para sempre. Então, a Santa Sé defende que quem se separa e contrai novas núpcias está em situação de pecado grave de adultério, o que impede de comungar, fazer penitências, batizar um bacuri e coisas do gênero. Particularmente eu até acho um pouco de graça, mas um detalhe me incomoda: a Igreja entende que quem se casa com uma pessoa (argh!) divorciada também comete pecado de adultério. Eliana entrou de gaiata nessa.

Isso tudo por causa de uma passagem bíblica: “Que o homem não separe o que Deus uniu” (Mt 19, 6). 

Resolvi partir para pesquisas sobre o assunto, até porque estão falando de mim pelas costas. São Google me deu uma mãozinha e encontrei três sites que falam basicamente a mesma coisa, dois mantidos por entidades eclesiásticas e o outro por um padre. Confesso que fiquei um tanto atônito com o conteúdo dos textos e, principalmente, pelas manifestações bem idade média por parte dos chamados fiéis. Extraí alguns trechos:

“Se a Eucaristia exprime a irreversibilidade do amor de Deus em Cristo pela sua Igreja, compreende-se por que motivo a mesma implique, relativamente ao sacramento do Matrimônio, aquela indissolubilidade a que todo o amor verdadeiro não pode deixar de anelar, explica Bento XVI (Sacramentum caritatis, 29).”

“A Igreja não pode dizer algo diferente do que seu Mestre disse: “Todo aquele que despede a sua mulher e se casa com outra, comete adultério. E quem se casa com a que foi despedida também comete adultério””

““Que o homem não separe o que Deus uniu” (Mt 19, 6). Contrair uma nova união conjugal (segundo casamento civil ou simples concubinato) quando a pessoa se divorciou significa negar a indissolubilidade sagrada do matrimônio e supõe estar em pecado grave, o que impede de comungar.”

“A razão pela qual os casais ditos ‘em segunda união’ não podem comungar é simplesmente porque vivem em situação de pecado mortal – geralmente público, continuado e impenitente.”

A cereja:

“A reconciliação sacramental não é possível enquanto o primeiro cônjuge não falecer (fato este que acaba com a vida em comum). Inclusive no caso de que que o novo casal receba a graça de continuar até a decisão de separar-se, ou pelo menos se a separação não for indicada (por exemplo, pelo bem dos filhos), é possível viver uma amizade espiritual, renunciando à intimidade própria dos esposos.”

Pensei até em pedir ajuda aos universitários sobre o significado de renunciar à intimidade própria dos esposos, mas acabei deduzindo que se trata de adotar na cama a posição bunda com bunda. Destaque para o absurdo da sugestão de separação para sanar nossa ‘situação de pecado mortal’. Fora de cogitação.

Pude observar nas entrelinhas dos textos e comentários que a atuação do Papa Francisco não é muito bem-vista pela ala conservadora, que se limita a engoli-la disfarçando a careta. Lógico, as cabeças cobertas por halos jamais falarão do papa o que o Collor falou do Janot, mas a impressão é que tá duro de deglutir suas ideias que quebram paradigmas milenares. A última do Chicão, em entrevista ao periódico argentino La Nación:

“No caso dos divorciados que voltaram a casar, perguntamo-nos: O que fazemos com eles? Quais são as portas que podemos abrir-lhes? E essa foi uma inquietação pastoral: Então vão receber a comunhão? Dar-lhes a comunhão não é a solução. Somente isso não é a solução, a solução é a integração. Não estão excomungados, é verdade. Mas não podem ser padrinhos de batismo, não podem ler a leitura na Missa, não podem dar a comunhão, não podem ensinar catequese, há cerca de sete coisas que eles não podem fazer. É como se tivessem sido excomungados! Precisamos abrir um pouco mais as porta”.

“Por que não podem ser padrinhos? ‘Não, olha, que testemunho vão dar ao afilhado’. Testemunho de um homem e uma mulher que lhe digam: ‘Olhem, querido, eu errei, eu patinei neste ponto, mas acredito que o Senhor me ama, quero seguir o Senhor, o pecado não me venceu , mas eu sigo adiante’. Mais testemunho cristão que esse?”

“Quando vem um destes políticos corruptos que temos para ser padrinho e está bem casado pela Igreja, você o aceita? E que testemunho vai dar ao afilhado? Testemunho de corrupção? Ou seja, temos que voltar a mudar um pouco as coisas…”

Às vezes desconfio que Torquemada tem, ainda hoje, um monte de viúvas saudosas.

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PRA QUEM GOSTA


Fui apresentado a esse vídeo ontem ou anteontem, produzido no já manjado estilo ‘bora esculachar, que é chique e tá na moda’. De início estranhei tratar-se de um apêndice eletrônico da revista Super Interessante, que normalmente se ocupa de assuntos outros. Porém, como a pátria-mãe é a Editora Abril, fica explicado o DNA que caracteriza a Veja. Tudo em casa.

É claro que concordo que a taxa de juros remuneratórios do FGTS, de 3% ao ano, poderia empatar com os 6% da caderneta de poupança. Mas o vídeo peca pelo equívoco – que mais parece saído de um saco de maldades, já que equívocos são geralmente involuntários – de colocar o FGTS no mesmo patamar dos chamados ativos financeiros. Até os ácaros lá de casa, pelo menos os honestos, sabem que o FGTS é um ativo social, jamais financeiro ou especulativo.

Não tenho a pretensão de dar aula para o jornalismo da Abril, que conhece a verdade mas de vez em quando aparece com essas licenças poéticas. Mas vale fazer alguns esclarecimentos.

O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço foi idealizado como regime alternativo à estabilidade no emprego, assegurada pelo art. 157, XII, da Constituição de 1946 e regulada pelos artigos 492 a 500 da CLT. O antigo regime de estabilidade era muito criticado, pois vivia sendo sabotado pelos empregadores, que costumavam dispensar os empregados em vias de completar 10 anos de serviço na mesma empresa para, logo após, readmiti-los. Naquela época já havia os espertinhos.

Além de constituir um pecúlio ao trabalhador para o momento de desligamento do emprego, também tem seus recursos utilizados pelos programas sociais que buscam oferecer o acesso à moradia popular, além de constituir uma das fontes de financiamento das obras de saneamento básico.

Quem conhece um mínimo de finanças sabe que em todos os setores da economia é imperativo o equilíbrio financeiro. Isto significa que não se pode pagar mais do que se recebe, sob pena de simplesmente falir. Então, é importante lembrar que os financiamentos imobiliários para a população de baixa renda e os recursos aplicados no saneamento são feitos a juros baixos. Por consequência, não é inteligente supor que a remuneração do FGTS ocorra como se fosse uma aplicação em ações da AMBEV.

Mesmo assim, não podemos comemorar a situação do Brasil, porque o déficit habitacional é grande e o percentual da população atendida por água encanada e esgoto sanitário ainda é muito baixo. Basta dizer que 34 milhões de brasileiros ainda não têm acesso a água encanada e apenas 38,7% dos esgotos gerados são tratados, segundo dados de 2012 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento-SNIS.

As aplicações dos recursos do FGTS exercem, ainda, um papel importante na saúde e na economia. Dados extraídos do Estudo “Benefícios Econômicos da Expansão do Saneamento Brasileiro”, realizado em 2014 pelo Instituto Trata Brasil/CEBDS, indicam que somente em 2013 foram notificadas pelo SUS cerca de 340 mil internações por infecções gastroinstestinais, ao custo estimado de R$ 355,71 por paciente. O mesmo estudo avalia que se 100% da população tivesse acesso à coleta de esgoto, havia uma redução de quase 75 mil internações, além de uma redução de 15,5% das 2.135 mortes ocorridas naquele ano.

É claro que a galera que faturou 2.785% em ações da AMBEV se preocupa muito com pobre morrendo, né?

De quebra, em 2012 o setor de saneamento gerou 726 mil empregos diretos, indiretos e de efeito renda em todo o país, sendo 210 mil diretos nos serviços e 516 mil gerados pelos investimentos.

Será que ainda acham que o FGTS precisa ser um ativo financeiro-especulativo?

Se os números atuais já não são uma Brastemp, como estariam as coisas hoje em prevalecendo essa mentalidade digna de saneamento básico, que só pensa em especulação? É desperdício pensar em proporcionar casa e saúde para pobre? É bom lembrar que saneamento básico é para todos.

Nos meus 32 anos de trabalho na Caixa Econômica, boa parte lidando direta ou indiretamente com o FGTS, testemunhei dezenas de ataques ao fundo de garantia, a maioria (senão todos) com intenções inconfessáveis. Foram diversos os botes de grandes bancos querendo abocanhar essa mina de ouro, que arrecadou em 2012 R$ 83 bilhões.

Então, é de se recomendar cautela com informações tendenciosas que são disseminadas na grande imprensa (que no mais das vezes é movida a canalhice e interesses corporativos), e manter um pé atrás, talvez os dois, quando surgem vídeos simplistas como o que acabamos de ver. 

Duvido que o vídeo tenha sido produzido com boas intenções.

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GENTE TRISTE

Comecei a perceber a proliferação desse tipo de bicho há alguns anos, principalmente aos domingos. Pensei que se tratavam apenas das chamadas viúvas do Senna, mas aos poucos a coisa foi ganhando contornos mais dramáticos. Nos espaços destinados à opinião dos leitores oferecidos por jornais e blogs, o que mais se lia era a expressão ‘pé de chinelo’, uma espécie de corruptela para Barrichello. Parecia que as pessoas não perdoavam o Rubinho por não ser tão bom quanto o Senna, aquilo foi crescendo até virar antipatia, e daí para a má vontade foi um pulo. Nem adiantava eventualmente ganhar uma corrida, era pé de chinelo e pronto.

Passou-se o tempo e a artilharia pesada migrou para o Massa. Como ele precisava de um apelido depreciativo, alguém resolveu que ele era a cara do Zacarias, e assim passou a ser chamado pelos membros do clubinho fechado. Não interessava se o jogo de equipe era algo praticado desde sempre (e que fez a alegria do Senna muitas vezes), o Zacarias tinha que voltar para o kart, o autorama ou o videogame, porque Fórmula 1 não era para ele.

Enquanto esse objeto de estudo sócio-psico-comportamental se restringiu às ondas televisivas e ao asfalto dos autódromos, era aquela coisa bobinha de gente estranha e insatisfeita consigo mesma.

Mas eu fui ficando assustado mais recentemente, de uns anos para cá, porque parece que os Gremlins beberam muita água e viraram monstrengos onipresentes e incômodos.

Além de especialistas em corridas, mesmo sem nunca ter entrado sequer num fusca envenenado, passaram a se achar experts também em política, economia e ética. Ficava cômica a cara de gênio que faziam ao dizer “eu li na Veja…”, sempre encerrando com uma frase de efeito que era facilmente identificável nos meios marrons dos hebdôs.

E aí o caldo entornou: essa turma que não se tolera achou que nós outros temos que tolerá-la. Ao humor putrefato juntou-se uma pitada de ausência de espírito, uma dose cavalar de intolerância com quem pensa diferente e a certeza de que sempre foram senhores da razão.

Pronto, nem precisou de catupiry.

De quebra ainda passou a rolar aquela mania feia de escolher o motivo da revolta, o objeto da indignação. Como um dos ingredientes era a parcialidade, obedecem cegamente a norma de jamais voltar-se contra seus iguais, mesmo que isto represente aguentar uma trolha em tese incômoda. Também não se permitem ler algo fora do que recomenda a cartilha das pessoas de bem, porque gente diferenciada tem que manter a compostura.

É inegável que os padrões são rigorosamente observados, o que garante a qualidade naquilo a que se propõe. Para melhor aplicação dos ideais da turma, deixo algumas instruções aos neófitos: o ideal é negar qualquer vestígio de ponto positivo se a iniciativa é do adversário que na verdade é inimigo mortal, disseminar nas redes sociais tudo o que for bombástico e tiver aparência de fim de mundo, cuidando para que a replicação chegue ao maior número de pessoas. Assim se consegue uma melhor quantidade de seguidores-distribuidores, que não são propriamente atentos, não se preocupam com a veracidade das informações porque já se habituaram com o discurso de que aquela fonte é segura ou foi replicada por alguém de confiança. De vez em quando vai aparecer uma notícia-que-não-querem-que-você-saiba, dizendo que a partir de agora só nos aposentaremos com 105 anos de contribuição e 160 de idade, que o filho do ministro é dono da NASA e que Elvis não morreu, mas vive de forma nababesca numa ilha isolada às custas do governo brasileiro, dos nossos impostos! Não se esqueça de jamais duvidar.

Recomenda-se seguir os dogmas da igreja dominante, torcer para o time certo, ter a orientação sexual considerada normal e, de preferência, acreditar cegamente que o Brasil foi descoberto somente em 2003. 

Se, somado a isso, ainda sobrar um tempinho para o patrulhamento sobre o vizinho, estará garantido ao Brasil um degrau na galeria dos lugares mais chatos pra se viver. 

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UM CHUTE NOS BAGOS

Lá nos idos de 2000, mais especificamente em 19 de dezembro, foi aprovada a Lei 10.098/2000, que estabeleceu diretrizes, direitos e obrigações no tocante à questão da acessibilidade no Brasil. Como o público mais diretamente beneficiado por essa lei tem um prestígio invejável, o decreto que a regulamentou demorou apenas quatro anos para ser publicado e levou o número 5.296/2004.

Lei e decreto detalham os vários tipos de deficiência (física, sensorial, mental) e definem os conceitos de barreiras, acessibilidade, edificações e logradouros públicos, privados e de uso comum e as formas com que, a partir de sua publicação, serão cumpridas as determinações estabelecidas a fim de proteger a incolumidade física e o direito à cidadania plena das pessoas com deficiência.

Existem dispositivos legais de âmbito estadual e alguns até municipais, mas a lei e o decreto federais de que falo são, a princípio, as referências para quem trabalha ou se preocupa com a questão da acessibilidade em nossas ruas, prédios e praças. São nossas cartilhas. 

Fazendo um resumo bem mequetrefe, ficou estabelecido que rampas, elevadores, pisos podotáteis, instalações sanitárias adaptadas, comunicação visual, dentre outras exigências, deveriam passar a figurar como itens obrigatórios nos prédios públicos e mesmo nos privados de uso comum, como escolas, faculdades, estádios, prédios comerciais, etc. E tem os detalhes:

TAC Art 15

TAC Art 15 Parágrafo 2o

Destaque para o artigo 24 do Decreto 5296/2004, acima, que trata especificamente da acessibilidade nos estabelecimentos de ensino públicos ou privados.

Pois bem: no ano passado, 14 anos após a publicação da Lei 10.098/2000 e 10 anos após o difícil parto do decreto que a regulamenta, alguém em São Paulo cismou que algo não estava legal. Chegou-se à conclusão de que as escolas públicas do estado estavam pouco se lixando para a Lei da Acessibilidade, fato este que tinha como consequência direta a exclusão inconstitucional de pessoas com deficiência.

Felizmente, quando tudo parecia perdido, eis que o assunto foi transferido para os guardiões da Lei do Ministério Público estadual. Agora sim!

Quer dizer… peraí… diabeísso?… coméquié memo?

A solução encontrada, provavelmente após exaustivos debates, foi a elaboração de um Termo de Ajustamento de Conduta, firmado entre o MP/SP e representantes do Estado de São Paulo, cuja decisão final, ‘justa e contratada’, é a seguinte:

TAC Prazo 15 anos

SEE é a sigla de Secretaria Estadual de Educação.

Aí me bateu a velha mania de analisar, com os olhos críticos do velho auditor que ainda não morreu em mim, essa cagada em forma de TAC.

Apelemos para a matemática: o Decreto 5.296 foi publicado em 2004, o que deu de saída uma folga de quatro anos para ajuste de quem, por incompetência ou desconhecimento, ainda não tinha adotado medidas capazes de eliminar as barreiras arquitetônicas e atitudinais que emperram o exercício da cidadania. Uma vez publicado, o decreto resolveu conceder mais três anos, no mínimo, para que os gestores (que nada haviam feito até então) finalmente investissem em educação inclusiva. Não percam a soma: 2000+4+3=2007. Já estávamos em 2007 e nada de cumprimento da lei.

O tempo passa, o tempo voa, e os gestores públicos de merda continuam numa boa. Para estupefação ampla, geral e irrestrita, sete anos após o prazo final estabelecido criou-se o tal TAC, que serviu para premiar a omissão e o descaso, além de, é claro, condenar as pessoas com deficiência a mais um tempinho de obscurantismo compulsório. Como se estivessem precisando dessa mãozinha de quem deveria defender seus interesses. Aliás, as declarações à imprensa, tanto do MP/SP quanto de setores do governo de SP, foram pérolas à parte:

“Esse TAC tem em vista o ser humano como valor fundamental” – Procurador-Geral de Justiça, Márcio Elias Rosa.

“Não há defesa da sociedade senão na perspectiva da pessoa humana” – Procurador-Geral de Justiça, Márcio Elias Rosa.

“O Estado tem obrigação de garantir, com trabalho planejado, que as crianças da rede pública de ensino tenham dignidade em sua educação” – Herman Voorwald, Secretário de Educação. 

“Estamos buscando atender a legislação oferecendo condições de dignidade aos alunos da rede” – Maria Elizabete da Costa, Coordenadora de Gestão da Educação Básica, da Secretaria de Educação.

“Trabalho com sinergia para a construção de caminhos acessíveis” – Secretária Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Linamara Batistella.

Impressão chata de que o assunto foi tratado por principiantes. Na vida real, longe de câmeras e holofotes, o que veremos serão mais 15 anos de omissão governamental para, quem sabe, novo TAC e novo prazo. Nos dizeres do advogado e jornalista Adelino Ozores sobre o assunto, “(…) brincam de “fazer educação”, as pessoas com deficiência ficam fora das escolas, das universidades e são vistas como desinteressadas pela sociedade. Empresários as apontam como sem qualificação para o emprego e pedem que mudem a lei de cotas. Estão brincando com vidas e com a Constituição, que garante educação para todos, ratificada pela Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência”.

Não ficarei surpreso se surgir a notícia de que pediram desculpas ao governador pelo incômodo.

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APNEIA

Lá se vai um bom par de décadas que dedico minhas noites à arte de roncar. Em maior ou menor grau, com mais ou menos decibéis, meu estilo é o ronco em si bemol na clave de fá, aquela coisa parecendo um tenorzão soprado por um hipopótamo.

Eu ainda estava sob antiga direção quando procurei ajuda médica. Tive que me submeter a um exame dos infernos chamado videolaringoscopia, em que a profissional me fez assumir a função de artista de circo e arregaçou minha garganta com uma cânula metálica de uns 30cm, com uma câmera na ponta para filmar a minha beleza interior.

Naquele momento eu não tinha muita diferença para um ganso francês sendo preparado para o fornecimento do foie-gras.

foie com texto

Quase a mesma coisa, né?

A médica ainda achou de testar a minha afinação. Com aquele tubo metálico cutucando o âmago do meu ser, pediu para repetir a escala de dó de trás pra frente. Só me arrancou grunhidos.

O veredito: hipertrofia e flacidez de úvula que, durante o sono, obstrui a passagem do ar e provoca o concerto para moto-serra. Isto foi há mais ou menos 20 anos, a doutora sugeriu uma cirurgia meio punk no meu pós-lingual e eu nunca mais dei as caras por lá.

Aí iniciei o processo de engorda de que falei no post Sanfona. A consequência mais marcante disso foi um aumento considerável dos episódios de apneia obstrutiva, que passou a me acordar madrugada adentro. Um saco. Achei melhor procurar ajuda médica de novo, e uma clínica especializada em distúrbios do sono caiu bem.

Foi a primeira vez em quase duas décadas que dona Eliana não teve o privilégio de me botar pra fazer naninha. Dormi na clínica, onde fui monitorado a noite toda via eletrodos que não contei, mas deviam ser uns 40 ou 50 espalhados por cabeça, tronco e membros. De vez em quando eu olhava meio de lado e tentava evitar o pensamento ‘vai que çapoha dá choque…’.

Após cerca de uma semana saiu o resultado da farra, que disse mais ou menos o seguinte: dos 386 minutos dormidos, houve 366 despertares, com o índice de distúrbio respiratório em 58.8, seja lá o que isso signifique. Houve momentos prolongados do que me pareceu ser uma espécie de cianose, com 40% de saturação da oxi-hemoglobina. Não fora eu um cara pra lá de otimista, diria que fudeu.

Até prova em contrário essa meleca não tem cura, apenas paliativos. Tudo indica que terei que usar uma máscara chamada CPAP, um troço mais feio que o Bolsonaro e que não tenho certeza se terei coragem de usar em público. Pelo menos minha médica disse que resolve tanto o ronco quanto a apneia, o que quer dizer que eu terei mais disposição durante o dia e Eliana sorrirá feliz e aliviada à noite.

Ela disse também que a má qualidade do sono e essa deficiência de oxigênio no sangue prejudicam bastante as atividades durante o dia, provocam sono e afetam também as atividades cerebrais e cognitivas. 

Finalmente descobri por que demorei quase 20 minutos pra dar aquele xeque-mate no Kasparov.

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TERCEIRO EU, DEPOIS O SAMBA

Fui pego de surpresa quando um malandro federal falou na televisão que o Projeto de Lei da terceirização visava organizar o setor, regulamentar as relações de trabalho e gerar empregos no âmbito das empresas terceirizadas. Quer dizer, então, que tudo o que vi nas últimas décadas foi na banguela, sem uma lei? A CLT não basta?

Claro que minha burrice não chega a tanto, eu sabia que era mais uma mentira. Durante pelo menos meus últimos 20 anos como bancário da Caixa Econômica Federal eu trabalhei com terceirizados, e sempre foi aquela coisa incômoda de casa grande e senzala no mesmo ambiente, nós todos executando as mesmíssimas tarefas e com uma disparidade de salários e vantagens indiretas colossal. Não raras vezes as empresas simplesmente quebravam e os funcionários ficavam no ora veja, só com o seguro-desemprego pra garantir as migalhas, porque nem o FGTS costuma ser recolhido.

Seguramente não foi pensando no crescimento do País que tanta gente por aí se empenhou bravamente na aprovação desse Projeto de Lei, que transforma a terceirização numa metástase. No vácuo das intenções de deputados favoráveis à medida estão as famílias que representam a grande mídia brasileira, que tentam fazer com que a terceirização ganhe ares de modernidade (sorry, Princesa Isabel!). Com efeito, a revista Época, edição 880 desta semana, traz matéria intitulada A Vanguarda do Atraso, numa crítica direta às entidades que se posicionaram contra a aprovação do Projeto de Lei.

Na contramão da alegação de que o intuito é apenas regulamentar o funcionamento das empresas, está o fato de que o objetivo central do PL é fazer a terceirização chegar até as áreas-fim das empresas. Isto significa que a gente pode passar a viajar sob o comando de um piloto terceirizado, basta a TAM contratar.

Preconceito? Não, informações do DIEESE e do Ministério Público do Trabalho, que promete brigar contra essa aberração. Segundo dados divulgados, a rotatividade observada nas empresas terceirizadas é maior do que o dobro dos contratos diretos. Mas as maiores provas de modernidade ficam por conta dos 80% de mortes por acidentes de trabalho, o que desnuda a ausência de investimentos em treinamento e em segurança (lembraram do que falei sobre o piloto da TAM?), a média salarial 24,7% menor e carga horária 30% maior nas terceirizadas e – la crème de la crème – perto de 90% de ocorrências conhecidas de trabalho análogo à escravidão também vieram de empresas terceirizadas. Mais moderno do que isso, não conheço.

Só pra ilustrar, uma nota publicada na mesma revista Época, edição 879, coluna Expresso:

Caixa terceirização multa

O PL aprovado também cuida de tirar da reta do contratante as consequências das dívidas dos donos de empresas terceirizadas. Isto significa que, ao contrário do que consta da notícia, os terceirizados não vão ter de quem receber se o patrão quebrar.

Então, é isso: em sendo aprovada no final de todos os embates essa tal terceirização nos moldes contidos no projeto de lei, esqueçam os concursos públicos. Sim, porque sua aplicação está vedada ao poder público somente ‘a princípio’. Não demora e um doido aí derruba essa limitação. Aí o que veremos será uma queda vertiginosa na arrecadação de encargos sociais, como o INSS, FGTS, PIS, Cofins e outros quetais, o fim de conquistas como o auxílio-creche, o regime de cotas, o programa de menores aprendizes, tudo em nome da modernidade.

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SÓ OBSERVO

No começo até que foi divertido, mas já está entrando na fase digna de preocupação o quociente de imbecilidade demonstrado por pessoas e instituições Brasil varonil afora. São ratos que querem se transformar em montanhas, enquanto já há montanhas parindo ratos. O exemplo mais gracioso é daquela galera que sai às ruas para se manifestar pelo retorno do regime militar, talvez para não ter mais que sair às ruas para se manifestar, já que automaticamente isso será proibido. 

Achei a coisa mais mimosa as duas moças carregando uma faixa contendo um nome pra lá de comprido, tipo ‘Marcha da família com Deus e o diabo, Glauber Rocha e seilamaisquem na terra do sol pela liberdade e o direito a uma conta no HSBC’. Deu pra cansar só a tentativa de leitura, por isso não decorei tudo. Eu tinha que guardar espaço na memória já carcomida, porque seria de se lamentar jogar na conta do alemão a frase “sonegação não é corrupção” contida num cartaz carregado por dois tontos.

A nota, digamos, menos séria da tarde festiva da Paulista foi um boçalzinho vestido de Tio Sam, com direito àquela cartola ridícula e uma bandeira americana. De início achei que poderia ser um estranho no ninho, mas depois suspeitei que se tratava de um autêntico coxinha que queria mesmo era ser um Big Mac.

A mídia que apoiava a micareta sabiamente não entrevistou ninguém, vai que abrem a boca, né?

Uma vez encerrados os desfiles dos blocos de Revoltadinhos, seria pretensioso esperar que o país voltasse ao normal. Ou ao anormal, já que a turma do ‘quanto pior, melhor’ não desiste de voltar ao poder pela força, e o normal aqui por enquanto é isso: agir para transformar a vida republicana num inferno cotidiano. Mas, enfim, me resta o otimismo inquebrantável.

A normalidade foi, enfim, restabelecida a partir de um artigo sempre inteligente do Reinaldo Azevedo, um comentário nunca vergonhoso do Jabor na TV, guerras escatológicas nas mídias sociais e a boa e velha briga entre os organizadores do evento, que disseram ter levado milhões para a Paulista, em contraponto à planilha da PM que indicava milhares.

Também se fez sentir algo parecido com cotidiano nas conversas de botequim, na beira da piscina e em todos os demais lugares tomados pelos palermas catastrofistas com complexo de vira-latas, que só abrem a boca pra falar mal do Brasil. Segundo consta, até os naufrágios recentes entre a Líbia e a Itália são culpa dos petralhas bolivarianos comunistas. E ai de quem contestar.  

Não é pra rir.

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ODE AO ÓCIO ALHEIO

Pode não ser – ainda – o país da piada pronta, mas o Brasil demonstra grande vocação para ser o país da tragédia iminente. Sempre aparece alguém disposto a botar um bode na sala, e isso provoca, a nós outros simples mortais, verdadeiro pavor de reclamar do que quer que seja. Simplesmente porque ainda pode piorar.

Sempre nos incomodou a vagabundagem remunerada dos nossos valiosos congressistas. Com boa dose de razão, achávamos que não era justo que eles ganhassem aquilo tudo para chegar em Brasília na terça e voltar pra casa na quarta. Por ser Brasil, porém, sempre vem aquela sensaçãozinha sacana do tipo ‘eu era feliz e não sabia’ que faz com que nos sintamos o próprio Iscariotes, mesmo quando temos a certeza de reclamar com justeza e conhecimento de causa.

Provavelmente para mostrar quem é que manda, em 17 dezembro de 2014 nossos amados congressistas, numa demonstração de idolatria ao trabalho ainda estavam em plenário. Às vésperas do Natal, vê se pode, nem na Noruega isso acontece. Já que estavam lá, aproveitaram e votaram favoravelmente ao aumento do próprio salário. Segundo consta, “as votações foram rápidas, com aprovação simbólica dos deputados e nenhum pedido de verificação de quórum”. Ah, tá.

Semana passada tivemos mais uma boa amostra do perigo de mexer com quem está literalmente quieto. Eis que, de repente, bateu cafubira no tal de Cunha e ele resolveu que o Brasil tinha pressa, que havia urgência urgentíssima de votar um projeto de lei de 2004. É, aquele que terceiriza até a casa da mãe Joana. O engraçado nisso é que o relator da urgência é um deputado baiano, mas o projeto em si não tem a menor graça. 

Na forma que foi apresentado e aprovado, o projeto de terceirização representa risco imediato para o País e os trabalhadores. Só é considerado legalzão pela galera que não se lixa para a segurança (80% dos acidentes de trabalho fatais são de terceirizados, dados do IBGE), e não é muito fã de impostos e encargos sociais. Deve ser por isso que os paneleiros da Paulista não se manifestaram.

Como disse aquele gênio da raça do ENEM, temos que deixar de ser egoístas e começar a pensar mais em nós mesmos. Assim, sugiro à galera que pare de cobrar trabalho e produtividade de nossos congressistas. Deixa quieto, é melhor.

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ACHO QUE VOLTEI

Devido ao calo de estimação na C3 (não, não é um carro) que cultivo há mais de duas décadas graças ao bom e velho futebol, convivo com travadas de coluna regularmente. Nem incomoda tanto, já se tornou uma tradição. Meu desafio atual é aturar as travadas do blog, que vêm caminhando a passos largos para virar direito adquirido. O WordPress é até legalzinho, mas com frequência demonstra tolerância zero com atualizações de plug-ins, o que levanta a suspeita de que se trata de um programa de direita, avesso a mudanças.

A partir de 15/03/2015 perdi mais uma vez o acesso ao blog, logo após tentar atualizar um plug-in estatístico. Contatei o pessoal do UOLHost, que foi, como sempre, simpático. E, também como sempre, não resolveu lhufas. Talvez a coisa esteja demorando tanto porque disse isso a eles, que suas intervenções sempre trazem no bojo um sonoro ‘se vira’, mas iniciam com um vocativo respeitoso e terminam com um adorável ‘continuamos à disposição’. Acho que magoaram e resolveram fazer pirraça. Ante o silêncio sepulcral que se sucedeu, tive que fazer contato por telefone para tentar resolver a contenda.

Alguma coisa aconteceu após isso, tanto é que já estou novamente postando, mas vale dizer que o texto foi digitado no Word e colado aqui, porque o editor do WordPress não me permitiu sequer escolher a fonte. A formatação foi para o brejo, mas quando for possível eu conserto. Faltam plug-ins e, agora, sua instalação e/ou atualização está inibida. Ainda não recebi nenhuma comunicação do suporte técnico do UOL, talvez ainda haja esperança de retorno à normalidade.

Oremos.

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BRIGA DE CACHORRO GRANDE

Há algum tempo vêm rolando no Facebook algumas enquetes bobinhas, cuja análise das respostas diz quem você foi em vidas passadas, que super-herói você seria e coisas assim. Ontem a enquete do momento prometia revelar qual o país em que a pessoa deveria ter nascido. Não perdi meu tempo, mas me chamou a atenção a euforia de um rapaz que descobriu que na verdade deveria ser norueguês. Sei lá se ele é tarado em bacalhau, gosta de neve o ano todo ou tem tendências suicidas como a galegada de lá, mas estava feliz da vida e orgulhoso com a ‘descoberta’.

Meu impulso inicial foi concluir que o carinha estava achando o Brasil tão chato que o melhor mesmo era ter nascido na Noruega. Mas aí imaginei que é exatamente gente como ele que tem transformado o país numa coisa muito chata.

O problema é que essa legião que faz o país ficar chato já passou da fase do modismo e avança para a cronificação. Boa parte é composta de inocentes úteis, incapazes de uma análise crítica e por isso mesmo repetidores de mantras contidos em publicações desavergonhadas, mas o que de fato preocupa são os dois polos caolhos que só contribuem para que não se chegue a lugar algum.

De um lado os da situação, que se recusam a enxergar que estamos em pleno processo de apodrecimento da decência. Oportunamente falarei de forma mais esmiuçada sobre o assunto, com base em minha vivência como auditor, já que o assunto exige detalhamentos que me levariam a escrever um tratado, mas por ora basta dizer que temos, sim, corrupção endêmica praticada no presente e no passado recente e, enquanto membros do Executivo já identificados nas investigações – além dos Sarneys, Renans e outros insetos-, permanecerem isentos de responsabilização, teremos a certeza de que reina a impunidade neste triste e belo país.

Mas essa serpente tem duas cabeças, uma em cada ponta. Do outro lado reina absoluta a galera do ‘quanto pior, melhor’, que até ensaiou a excomunhão do Chicão, nosso papa velho de guerra, mas parece que a prudência mandou pisar no freio.

Essa turma padece da síndrome do pó de arroz e resolveu tentar a sorte no tapetão, que ficou conhecido como 3o turno nas últimas eleições. Levantaram suspeitas (todas insuspeitas) sobre a manipulação das urnas eletrônicas que elegeram Dilma, mas inocentaram as urnas que elegeram o Alckmin, uma parcela mais atentada levantou a bandeira de um golpe militar pós-moderno, a que deram o prosaico nome de Intervenção Militar Constitucional (lindo!) e de fato demonstram acreditar que é a salvação da lavoura. Reza a lenda que os milicos sempre estiveram acima de qualquer suspeita, todos são honestos e só mataram os que mereciam ser assassinados, como bem esclareceu o músico de QI alto sem bagagem Roger Moreira, no entrevero que teve com o escritor Marcelo Rubens Paiva. O plano b é o impeachment da presidente da República, cujo processo, segundo asseguram as autoridades facebookianas, pode ser iniciado sem maiores problemas, porque ela é feia e eu não gosto dela.

Estes são os dois tipos dominantes, que obviamente dão origem a subtipos.

Não se trata, porém, de reles confronto de idéias. O que observo com mais preocupação é o ódio que permeia as manifestações de lado a lado, como se não nos bastassem as guerras entre aquelas quadrilhas sustentadas por agremiações esportivas e que levam a alcunha de torcidas organizadas.

Dia desses, por ter me posicionado a favor de uma melhor distribuição de renda e maior taxação das grandes fortunas, ganhei um chapéu de burro e crachá de petralha. Até fiquei feliz, porque acho que seria menos honroso jogar no time da galera do bolsa empreiteiro, mas continuo achando que essa polarização é de todo desnecessária. Eu defendo as cores da chamada ‘esquerda caviar’, e fiquei sabendo disso pela boca de um ilustre representante da ‘direita pão com ovo’. Vai entender, né?

Pela primeira vez exponho abertamente minhas convicções e preocupações. Fiquei na moita não por medo, mas porque os fatos do dia-a-dia me indicam que não vale a pena discutir com radicais de esquerda e de direita, em boa maioria simples gado que não tem lastro cultural ou histórico que permita ir além das palavras de ordem.

Este assunto não se encerra por aqui.

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SANFONA

Desde que me conheço por gente (isto nunca ocorreu, é só força de expressão), ou pelo menos no período compreendido entre a adolescência e as beiradas do portal do meio século, vivi uma situação assaz monótona: pressão 12×8, 80 batidas por minuto quando o coração não estava apaixonado, colesterol legal e 72 quilos. Era como uma cláusula pétrea, qualquer alteração seria vista como um sacrilégio.

Mas sempre tem o “até que”.  Em 2008 eu resolvi dar uma conferida no meu sangue bom e descobri que era um dos ilustres portadores do vírus da hepatite C. Considerando a literatura médica a respeito e meu modus vivendi, a conclusão era no sentido de que eu tinha contraído o tal vírus havia cerca de 28 anos, após uma transfusão de sangue. Caraca!

Isto é história antiga, que já abordei em alguns posts como este, mas parece que ainda não falei de um assunto pós-tratamento. Aliás, o tal tratamento equivale a tomar veneno de cobra para combater soro antiofídico, e provoca uma tonelada de efeitos colaterais. Um deles foi emagrecimento: nos  últimos 90 dias até a última dose fui perdendo cerca de três quilos ao mês, e ainda continuei afinando até chegar aos 60 quilos. A esta altura eu era uma réplica do mapa do Chile, uma espécie de Marco Maciel piorado.

Além do desconforto em ventanias, tive que renovar o guarda-roupa porque pulei do manequim 42 para o 38 sem escalas. Morri numa grana preta. A causa do emagrecimento, descobri depois, foi o completo despirocamento da tireóide, o que explica também os momentos de taquicardia e a taxa de colesterol, que resolveu ficar uma gracinha. Hipertireoidismo brabo.

Comecei o tratamento da tireóide, inaugurando a fase do estica-e-puxa. Tomava o medicamento e de repente o hiper virava hipo, aí eu engordava. Mas hipo também não é legal, então a médica alterava a dose e eu voltava ao hiper e emagrecia. Glândula rebelde, segundo foi diagnosticado. Como a situação era perigosa, acabei me submetendo a um procedimento de choque com o uso de iodo radioativo, e aí eu me tornei um hipotireóidico juramentado. Comecei a recuperar o peso, mas tomando medicamentos para tentar empatar o placar. 

Neste caso específico, o nem-nem é o melhor dos mundos: nem hiper, nem hipo. O problema é que persigo esse ideal de perfeição há mais de dois anos, por enquanto ainda sem sucesso.

A balança ameaça apontar inacreditáveis 80 kg (só falta um) e o manequim 38 passou a fazer parte de um passado recente e incômodo.  Já tive que novamente renovar o guarda-roupa, porque as roupas que tinham se tornado enormes foram doadas. Tudo bem, parcelamento no cartão é pra essas coisas, mas o que se fez de fato urgente e preciso foi atender às lamúrias de Androceu, meu parceiro velho de guerra, que andou tendo crises de claustrofobia e me acusava de aplicar-lhe diariamente um mata-leão.

A solução teve até um certo viés ecológico, porque no fim das contas voltei a criar o bicho solto: comprei uma dezena de cuecas tamanho G, não se descartando o GG nas eventuais manifestações de carência afetiva.

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HIGHLANDER

Eu andei falando sobre meu pai neste cafofo – quem não leu, clica aqui – mas acabei me esquecendo de adicionar o detalhe da teimosia, que foi se avolumando ao sabor da sobreposição das décadas no lombo.

Antes, uma correção: ele completou 82 e não 84 anos em outubro passado. É, eu às vezes também acuso os golpes do calendário.

O velho é pernambucano de Caruaru, onde mora minha irmã, cunhado, aderentes e a sobrinhada. Todo janeiro, há vários anos, boto o patriarca num avião para a visita anual sagrada ao torrão não menos sagrado, ocasião em que ele revê todos os familiares, curte uma praia e detona uma coleção de latas, a maioria de cerveja mas desconfio que também não livra a cara da Pitu. Em 2014 a coisa foi um pouco diferente: meu tio Jorge, seu irmão, saiu de São Paulo, onde mora, passou em Brasília, apanhou meu pai e seguiram para Pernambuco de carro. Como no mundo oceânico há os chamados ‘lobos do mar’, imagino que a viagem deles tenha sido uma revisita de dois velhos ratos de estrada a seu antigo habitat. Mesmo nunca tendo trabalhado juntos, ambos foram caminhoneiros durante décadas.

A coisa deve ter sido muito divertida para os dois, porque combinaram repetir a dose este ano. Para desespero do lado de cá, diga-se, já que meu tio é dois anos menos jovem que meu pai. O combinado, por sua vez, tinha requintes de crueldade: meu pai sairia de Brasília, iria até São Paulo, mais especificamente Mauá, e de lá partiriam. Só o trecho entre SP e Caruaru são cerca de 2.500 km.

Minha mãe, que nunca foi fã sequer das viagens aéreas (só topou ir uma vez), ficou zureta com as idéias mirabolantes dos dois malucos. Conversamos com meu pai, expusemos os riscos, lembramos a ele que os anos se passaram e os reflexos já não são os mesmos, pedimos, ponderamos e no dia dois de janeiro o velho montou em seu Corolla rumo à paulicéia. O botão do foda-se dele é grandão.

Passamos o réveillon em Brasília, mas já no dia seguinte tivemos que retornar a Goiânia, porque Eliana não teria folga na sexta-feira. Lá pelas 10 da manhã o telefone tocou e era meu irmão do outro lado, para me informar que meu pai tinha capotado o carro mas sem detalhamentos sobre o estado dele, apenas uma informação de que estaria bem e sob cuidados médicos em um hospital da cidade de Uberlândia/MG.

O celular dele só dava caixa postal, então tive a ideia de tentar alguma informação junto à Polícia Rodoviária Federal. Liguei no posto da BR-365, em Uberlândia, e me confirmaram que não só meu pai estava milagrosamente bem, como o carro havia sido encaminhado para lá. Até a véspera, sem um único arranhão; no dia seguinte, sucata:

Carro

O mais angustiante era não saber para qual hospital meu pai tinha sido encaminhado, eu ora pegava as chaves do carro para ir às escuras para Uberlândia, ora voltava para o sofá em frente ao telefone na esperança de receber notícias. Após meia hora de sofrimento o telefone toca e recebo as informações de que precisava.

Pé na estrada, eu tinha cerca de 350 km para vencer.

Como já era tarde de sexta-feira e o policial rodoviário me avisou que os procedimentos para liberação do carro só poderiam ser feitos em horário comercial, parei primeiro no posto da PRF na entrada da cidade. Fui super bem recebido e atendido, a papelada necessária foi preenchida e logo estava na porta do Pronto Socorro do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia. O nome é pomposo, mas o prédio parece não resistir a uma sopradinha do lobo mau.

Ao me identificar para a moça da recepção percebi que meu pai estava de fato ali: “ah, é filho do Seo Otávio?, ele está muito bem (homem forte, né?, ele é sempre bem-humorado assim?, 80 e tantos anos e com aquela saúde, benzadeus, etc), já conversamos muito, que coisa né, ainda bem que blá-blá-blá…”

Meu pai estava com o rosto um pouco inchado, principalmente no nariz e na região dos olhos, provavelmente por ter metido a cara no volante. O acidente foi causado por um motociclista (cuja mãe é uma santa) que invadiu a estrada no embalo que vinha de uma saída de fazenda e meu pai, para não passar por cima, meteu o pezão no freio e acabou perdendo o controle do carro. Nem ABS nem airbag funcionaram, legal né?

Saldo da farra: fratura do esterno, sem a necessidade de procedimentos médicos, leves escoriações nos braços e uma das pernas e a cara de quem mexeu com mulher de pugilista. Pelas circunstâncias, um lucro exorbitante.

Ainda assim os médicos me avisaram que não dariam alta naquele dia, porque era necessário aguardar mais 24 horas em observação. Nós dois sem fome (meu pai pelo menos estava no soro glicosado), passamos o resto do dia sem comer nada. Depois das nove da noite meu pai dormiu pesado e resolvi procurar um hotel, principalmente porque precisava ligar para um monte de gente para repassar as notícias e a maravilhosa TIM simplesmente não funciona em Uberlândia, uma das cidades mais importantes de Minas Gerais. Tentei utilizar o orelhão que fica em frente ao estacionamento do hospital, mas fiquei com a nítida impressão de ter retornado ao início do Século XX. O máximo que consegui foi ouvir alguém do outro lado gritando “alô, alô, alô…”.

Acho que estava meio cansado, acordei mais tarde do que gostaria. Cheguei no hospital e lá estava Seu Otávio, ainda fantasiado de paciente mas já liberado. Conversei mais uma vez com os médicos e enfermeiras, recebi as orientações necessárias e providenciamos o retorno para Brasília. 

Ainda que o prédio do complexo hospitalar esteja em ruínas, é justo destacar o excelente atendimento que meu pai recebeu, além da consideração e zelo de médicos e enfermeiros que fizeram questão de me colocar a par de tudo. É um hospital-escola, a maioria ali era de residentes, mas saí de lá com um pouco mais de esperança. Pelo menos por enquanto essa molecada está a fim mesmo é de honrar o juramento a Hipócrates, duvido que algum deles esteja pensando em comprar um leito de UTI para alugar, arrumar um emprego público só para bater ponto e correr para o consultório próprio ou mesmo colocar uma prótese de madeira e cobrar do SUS ou plano de saúde o equivalente a uma peça de titânio.

Durante a primeira hora de viagem meu pai dormiu no banco de trás. Quando acordou já estávamos próximos a Catalão e seu celular tocou. Era meu tio, que queria saber como ele estava e avisar que tinha decidido fazer a viagem em seu próprio carro. Disse que na ida passaria por Brasília para uma visita.

Abasteci o carro, fizemos um lanche rápido e novamente ganhamos a estrada. De repente o velho pega o telefone, digita uma infinidade de números e diz: “Jorge, cabe mais um no seu carro?” Fiquei entre incrédulo e atônito. ‘Velho, tá doido?, saiu do hospital hoje e já quer viajar amanhã?’ Acho que meu pai encara a vida de forma mais simples. “Tô me sentindo ótimo, ué!”

A Terceira Guerra Mundial esteve prestes a eclodir quando chegamos, mas acho que nem a lábia do Maluf convenceria meu pai a mudar de idéia.

Ontem ele me telefonou. Estava na praia, perto de Porto de Galinhas, paparicado pela filha, netos e bisnetos, só lamentando que ainda tinha alguns dias de lei seca a cumprir. Feliz da vida.

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